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UMA CONVERSA SOBRE A MORTE


Encontrei-me com Renzo em sua casa para uma conversa em janeiro de 2021. Mesmo em pleno inverno, fazia sol lá fora. Uma tarde fria e linda. As árvores estavam desfolhadas, mas era só uma questão de tempo até que a vida irrompesse novamente. Renzo declarou, assim que nos sentamos frente a frente em seu escritório:
 
RENZO: Se hoje me trancassem em uma solitária escura, me dando apenas o suficiente para sobreviver, ainda assim eu seria o homem mais feliz do mundo – por tudo o que eu já vivi. O importante não é o tempo de duração de uma vida, mas a intensidade com que um homem viveu.
 
ENTREVISTADOR: O que você fará quando chegar ao céu? 
 
RENZO: Vou dizer pra São Pedro que se meu nome não estiver na lista de convidados, vou sentar a porrada nele!
 
ENTREVISTADOR: Tem algum remorso?
 
RENZO: Nenhum. Porque até quando errei, eu queria fazer o melhor. Mantive meu coração puro. 
 
ENTREVISTADOR: O que você quer que escrevam em sua lápide? 
 
RENZO: “Você que vem aqui me visitar, diga às futuras gerações que vivi e lutei de acordo com nossa crença familiar.” Lealdade. E coragem.
 
ENTREVISTADOR: Como você imagina a sua própria morte? 
 
RENZO: Uma vez o Sheik Tahnoon (dos Emirados Árabes) me perguntou: “Se você soubesse que vai morrer amanhã, o que você faria?” 
“Nada”, respondi. 
O príncipe ficou perplexo: “Como assim?”
Eu disse a ele: “Meu irmão, eu abracei quem eu queria abraçar. Eu beijei quem eu queria beijar. Eu disse “Eu te amo” a todas as pessoas! Não tenho nada atrasado, estou em dia. E só espero que tudo termine com um espetáculo de fogos de artifício!”
 
Renzo deu uma pausa e um pensamento me veio à mente: alguns de nós têm a sagrada oportunidade de serem heróis uma vez na vida, em um grande ato de coragem no qual salvamos uma ou mais pessoas, redignificando, com nossa ação, a condição humana. Mas Renzo tem feito isso há décadas, incansavelmente, como uma parte de seu dia-a-dia. Como se este fosse o seu dever. É isso o que o torna um herói de nosso tempo. 
 
RENZO: Lembro que li um poema quando era criança. Não me recordo quem o escreveu, mas uma frase ficou comigo: 
"Um dia, chutei uma bola para o alto
e nunca a escutei cair..." 
Minha vida é como essa bola de futebol, voando pelo espaço. Talvez para sempre...
 
Neste momento, olhamos pela janela e vimos que, sob o sol do fim da tarde, seu neto Roman, de 5 anos, brincava no jardim. Por uma incrível sincronicidade, o menino jogava futebol. Depois de correr com a bola nas mãos, Roman a jogou para cima; e antes da bola atingir o solo, a criança a chutou em direção ao céu.
 
Renzo fechou os olhos.
E sorriu em silêncio.