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UMA NOITE EM NEW YORK - Parte 3


Renzo procurou em várias esquinas, pontos dos traficantes, mas não encontrou ninguém. Ele lembrou-se de duas ocasiões recentes em que as coisas tinham sido diferentes: 
 
No primeiro caso, Renzo percebeu que uma mulher estava sendo seguida por três sujeitos em atitude suspeita. A mulher estava visivelmente embriagada, carregando algumas sacolas de roupas. Renzo começou a acompanhá-los à distância; quando a mulher trocou de calçada, os caras foram atrás. Renzo apertou o passo e aproximou-se, encarando os assediadores: “Estão procurando alguma coisa?” Os sujeitos estancaram. Amparando a mulher, Renzo chamou um táxi, colocou-a no veículo, deu ao motorista uma nota de 100 dólares e lhe disse para deixar a moça em casa. Depois ele virou-se para os marginais que o observavam: “Hoje NÃO!”, disse com firmeza. Os três hesitaram por um momento; em seguida se afastaram. 
 
A outra lembrança dizia respeito a um rapaz homossexual que estava em vias de ser agredido por dois homens que o xingavam violentamente. Renzo percebeu que o rapaz chorava. Ele deteve-se em frente a eles. “Isso não é problema seu!”, disse um dos agressores. “Não é – AINDA. Mas vai ser, se vocês encostarem um dedo nesse garoto.” Os dois caras se aproximaram de Renzo. “É aquele lutador brasileiro...”, um sussurrou ao outro, e ambos recuaram. Renzo pegou a mão do rapaz e o acompanhou a um lugar seguro, longe dos agressores. 
 
Mas naquela noite de agosto, felizmente, não havia nenhuma altercação. 
 
Temporariamente satisfeito, Renzo caminhou de volta a seu carro, deu a partida e começou a viagem em direção a sua casa em New Jersey, a 45 minutos de distância. No som do carro, a voz de Frank Sinatra o acampanharia no trajeto: 
 
"Fly me to the moon
Let me play among the stars
Let me see what spring is like
On Jupiter and Mars" 
 
Seu fascínio por Sinatra surgiu desde que chegou em NY: um lado de sua personalidade gostava de ser, como o Old Blue Eyes, um chefe atencioso, cercado por um staff composto pelas dezenas de pessoas que trabalhavam em seus negócios. Cuidar das pessoas era uma parte importante de sua vida e ele não sentia a dependência delas como um peso: “Quero que as pessoas brilhem. Se você está comigo, vai brilhar – nem que eu tenha que te forçar a isso!”, brincava. 
 
"Fill my heart with song
And let me sing for ever more
You are all I long for 
All I worship and adore" 
 
Renzo teria entre três a quatro horas de sono naquela noite. Às 7:30h ele já retomaria seu treinamento diário duríssimo, que envolvia corridas de longa distância, musculação e intermináveis sessões de Jiu-Jitsu com parceiros muito mais jovens, enfrentados em sequência. 
 
Aquela noite era uma síntese da ética de Renzo: generosidade com os outros, rigor consigo mesmo. Rigor – que é mais que a noção de disciplina que se relaciona aos atletas. Renzo não era disciplinado, ele era rigoroso. Intensamente rigoroso. 
 
"In other words, please be true" 
 
RENZO: Só espero que a morte, quando vier, seja uma mulher... Porque eu vou querer um beijo antes de ir! 
 
Sozinho ao volante de seu carro ele sorriu antes de cantar, junto com Sinatra, o último verso de “Fly Me to the Moon”, enquanto cruzava há 120 km/h as estradas escuras que o separavam de sua casa, uma mansão avaliada em 5 milhões de dólares – um sorriso franco, tão característico, que traduzia sua atitude inteira diante da vida.