SEJA ÁGUA, MEU AMIGO - Parte 2
Vinicius Landeira (lutador profissional, professor e faixa-preta de Jiu-Jitsu pelas mãos de Renzo) fala sobre a capacidade de Renzo de se adaptar e improvisar durante um combate, produto de um estudo profundo das características do adversário, asim como de um amplo repertório de possibilidades de ação.
VINICIUS: Acredito que Renzo só possa improvisar porque tem um repertório técnico muito vasto, uma base muito sólida. Por exemplo: quando algum de nós estava prestes a ir para um campeonato, para enfrentar um adversário muito duro, chegávamos pro Renzo e pedíamos conselhos: “Mestre, eu vou enfrentar esse cara, o que eu tenho que fazer?” Renzo pensava um pouco, lembrava-se das características do cara que a gente ia enfrentar (ele conhece todo mundo!) e dizia: “Contra esse cara você deve fazer isso, isso e isso... Você vai começar a lutar com esse cara assim...” Em cinco minutos ele achava uma solução para derrotar aquele adversário. Vi ele fazendo isso muitas vezes; desde faixas-azuis até faixas-pretas chegavam pra ele e diziam: “Mestre, eu estou com dificuldade nisso...” Aí ele senta contigo e fica ali, pensando; depois levanta e treina uma série de movimentos. Ele tem essa coisa do estudo, de querer entender a luta. Uma capacidade de compreensão das artes marciais fora do comum. Se você me perguntar qual é a principal característica do Renzo, eu diria que é essa coisa de estudar o jogo, calcular as possibilidades e dizer: “É isso o que você precisa fazer!”
ENTREVISTADOR: E funcionava?
VINICIUS: Sempre! Ele te prova, porque nas lutas sempre dava certo. A GRACIE BARRA, na época em que o Renzo estava lá, foi tricampeã mundial, foi uma época em que ninguém derrotava os lutadores de lá. E ele foi o responsável por isso! Há um outro aspecto do Renzo que é preciso enaltecer: a confiança que ele transmite. Ele é o tipo do cara pra quem nada é difícil, muito menos impossível.
Uma observação relevante: a luta contra Oleg Taktarov aconteceu em 1996, ano em que Renzo chegou aos EUA vindo do Brasil e, portanto, momento delicado de sua adaptação ao país. O combate aconteceu em novembro, poucos meses depois da abertura de sua primeira academia na 27th Street em New York, em meio a sua exaustiva rotina diária de professor.
VINICIUS: Então você imagina: o cara nesse processo, chegando em outro país, com dezenas de alunos iniciantes, dando aulas 7 dias por semana, e ainda assim ele encara essa luta contra um dos atletas mais duros da época... E tirou aquele nocaute da cartola, o que é típico do Renzo! Se você o observa treinando, percebe que ele vai tirando coisas da manga... Aquele combate foi um exemplo clássico do que ele é como lutador: não fica fixado em formas determinadas, não fica estagnado em um jeito único de aplicar os golpes, não segue um método imutável. Ele cria, inventa, IMPROVISA.
“A rigidez é o caminho para a morte.
A fluidez é o caminho para a vida.”
Myamoto Musashi
Nenhum comentário ainda. Inscreva-se agora e seja o primeiro a comentar.