WORLD COMBAT CHAMPIONSHIP (1995) - Parte 1
"Renzo Gracie é bonito, ele tem os olhos da minha namorada. Amanhã vou fazer com ele no ringue o que costumo fazer com ela na cama."
A declaração, dada pelo judoca holandês Ben Spijkers, foi seguida por risadas de escárnio. Era a conferência de imprensa do WORLD COMBAT CHAMPIONSHIP, torneio internacional sediado na Carolina do Norte (EUA) em outubro de 1995.
O torneio, um evento de luta sem barreiras (isto é: um combate no qual todo o tipo de golpe era permitido), fora criado por Christopher Peters, filho do famoso produtor de cinema Jon Peters. Com a ambição de ser o maior campeonato de Vale Tudo do mundo, consistia em duas linhas paralelas de lutas: em uma delas se enfrentariam grapplers (lutadores especializados em luta agarrada no chão); em outra, strikers (lutadores que preconizavam socos e chutes de pé). Na final, os vencedores de cada uma das chaves finalmente se encontrariam no ringue, definindo a superioridade de um estilo: o melhor grappler contra o melhor striker.
O primeiro confronto da noite no segmento de luta agarrada seria entre Renzo Gracie e Ben Spijkers.
O holandês era um orgulho de seu país. Havia sido campeão mundial de judô e representou a Holanda nas Olimpíadas de Seoul na Coréia do Sul em 1988, conseguindo a medalha de bronze.
Suas provocações não se encerraram nas declarações grotescas para a imprensa: durante a noite que precedeu a luta, Spijkers ligou diversas vezes para o quarto de Renzo no hotel, impedindo-o de dormir. Além disso, solicitou que o serviço de quarto levasse pedidos esdrúxulos de comida para Renzo de madrugada.
Essa estratégia de provocação (conhecida no meio como trash talk), que procurava causar desorientação, desequilíbrio emocional e desestabilização psicológica no adversário, surtiu um efeito oposto em Renzo: um nível de foco absoluto no combate, lenha para um motor acionado no modo destruição.
É evidente que a luta é um esporte e, como tal, não implica em sentir raiva do adversário para vencê-lo. Mas os homens são animais sensíveis e, em todos os campos da ação humana, a raiva sempre se provou um combustível explosivo, impulsionando aqueles que a sentem com a força indomável de um foguete.
A tenacidade de Spijkers seria o atrito do ar e a gravidade atuando juntos – mas, naquele dia 17 de outubro, nada impediria o bólido-Gracie de rasgar a atmosfera e alcançar sua órbita nas alturas do espaço.
Durante a entrada e apresentação dos lutadores, Renzo quase não se movia, os pés plantados no chão, olhos fixos em Spijkers. Não se tratava de um olhar de intimidação, embora seja nítido pela expressão do holandês que esse efeito colateral foi atingido.
Era mais como o olhar de um toureiro.
E ao sinal do juiz, como um touro Spijkers investiu, um animal acuado que prevê seu destino sangrento e procura escapar em desespero. Sua força física superior (exatamente como no caso de touro e toureiro...) permitiu que ele erguesse o corpo de Renzo no ar e o lançasse ao solo. Renzo agarrou-se a ele como um polvo em sua vítima marinha, as ventosas firmemente fixadas, tornando a fuga impossível. Spijkers manteve-se em posição de superioridade por cerca de 1 minuto, sem no entanto conseguir a efetividade de algum golpe ou submissão. Então Renzo desvencilhou-se, se ergueu, inverteu o eixo do combate e agarrou Spijkers por trás. No chão, desferiu uma série de cotoveladas contra o crânio do holandês, esmagando a cabeça do judoca contra o piso. Depois de castigá-lo, Renzo o enforcou por trás, num estrangulamento de lapela perfeitamente executado.
Ben Spijkers, em pânico, desistiu em cerca de 2 minutos de luta.
(continua)
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